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Lenda da origem do rio Amazonas

Lenda da origem do rio Amazonas

Lenda da origem do rio Amazonas

Segundo a lenda Maué da primeira água e origem do rio Amazonas, Icuamã, Ocumató e *Onhiamuaçabê eram irmãos. Um dia, Icuamã deu uma festa e convidou todos os bichos. Os índios-peixe, Jeju e Mantrinchão, ficaram na porta conversando. O filho de Icuamã, ficou curioso e aproximou-se para ouvir o que eles diziam. Falavam erradamente. O indiozinho começou a corrigi-los e eles, de raiva, fizeram tal feitiçaria que ele morreu. Icuamã jurou a si mesmo que vingaria a morte do filho. Levou-o até uma clareira, no meio da floresta; depositou-o no chão, dividiu-o pela metade e enterrou os pedaços. Alguns dias depois, brotaram plantinhas; de um pedaço nasceu o timbó-urucuócuhup, o falso timbó; do outro, nasceu o timbó-ocuhén, o verdadeiro. Perto da casa de Ocumató, morava Sucuri-Tenon, cujo filho, o Sucuri-Pacu, estava proibido pelo pai de ir ver seus tios feiticeiros, Jeju e Traíra. Mas o menino ouviu dizer que Jeju tinha inventado a primeira água e foi à casa deles. A tia lhe mostrou uma pequena poça. O menino achou muito pequeno. A tia, zangada, fez feitiçaria e ele, meio tonto, voltou para casa. Sucuri-Tenon logo adivinhou o que havia acontecido. “É feitiçaria! Quem o enfeitiçou tem o remédio. Vai buscá-lo.” O curumim obedeceu. Retornou a casa dos tios. Nesse tempo, o Jeju regressou, bebeu um pouco de água da poça e cuspiu-a em uma cuia. Daí a pouco, apareceu o indiozinho; queixava-se de dor de cabeça. Jeju deu-lhe a água da cuia. Quando ele terminou de tomá-la, sua barriga doía muito e começava a estufar. Implorou ao tio que passasse o maracá de pajé (chocalho) sobre sua barriga, para aliviar a dor. Jeju atendeu. Passou o maracá 1, 2, 3 vezes. E a barriga explodiu. Dela, verteu água que foi crescendo, encheu a casa, saiu pelo terreiro, sempre subindo. Jeju correu. Ao ver a água pela primeira vez, os índios-pássaros voaram sobre ela, desceram nos galhos da margem e ficaram a olhar. O sapo não esperou e foi para o fundo, cantando de satisfação. É por isso que ele tem, ainda hoje, a voz rouca. Chamado por Jeju, o Sucuri-Tenon veio saber o que havia. O feiticeiro pediu-lhe que fosse andando na frente, abrindo caminho para a água. “Mas não olhe para trás!” advertiu-o. O Sucuri não deu importância e prosseguiu. Tanto olhou para trás que os rios ficaram com o curso todo sinuoso. Atraídos pelo rio, os índios-peixe mergulharam. A notícia espalhou-se e Icuamã descobriu que foram os índios-peixe que mataram seu filho. Com Ocumató e muitos índios, organizou um mutirão. Pegaram timbó e entraram no rio, batendo a planta na água. Envenenados, os peixes vieram à tona mortos. O índio-onça e a mulher não gostaram daquilo. Também mergulharam. Imediatamente, o timbó perdeu a força. Icuamã, com raiva, agarrou os dois e matou-os. Arrancou seus olhos e enterrou-os. Deles nasceram as castanheiras. Assim surgiu o rio Amazonas, cujo volume de água é superior ao de todos os outros rios do mundo e, é um sistema sinuoso de canais, na maior parte de seu curso através da floresta. Aí vive o Sucuri-Tenon que, de tanto dar voltas, terminou virando cobra.

(Lendas Indígenas – Gráfica Ed. Aquarela, SP, 1962)

* Onhiamuaçabê – o guaraná é fruto brotado dos olhos do filho dessa índia

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